sábado, 22 de junho de 2019

Investir em dividendos é a estratégia superior?


Alguns investidores bem-sucedidos, capitaneados pelo grande Luiz Barsi, tem o costume de olhar para o dividend yield (relação entre os dividendos e o preço da ação) para procurar bons negócios na Bolsa. Isso porque, pela nossa legislação, ao contrário de outros mercados, como o americano, em caso de lucro as companhias são obrigadas a distribuír 25% desse total. Olhar para este grupo de empresas, portanto, funciona como um atalho para empresas ao mesmo tempo (1) lucrativas / geradoras de caixa, e (2) negociadas com relativo desconto frente ao que distribuem aos seus acionistas.

Afinal, o investimento em ações de empresas pagadoras de dividendos é mesmo superior àquele em ações de companhias que pouco pagam ou nada aos seus acionistas? Vale a pena comprar uma ação na expectativa de receber aquele dividendo gordo nos próximos meses? Como quase tudo relacionado ao mercado financeiro, a resposta para as perguntas acima é: depende. Mas vamos tentar respondê-las.
Existem cinco alternativas que os administradores encaram quando de sua empresa gera um excedente de caixa em sua operação. Cada uma delas pode variar de ótima a péssima sob algumas condições:


1.Investir na ampliação do negócio

2. Amortizar dívida

3. Aquisições de outras companhias

4. Distribuir dividendos

5. Recomprar suas ações (pouco usual no Brasil)

Em que casos a escolha ótima é NÃO pagar o acionista?

Empresas com modelos de negócios sólidos, bem geridas, conseguem reinvestir seus recursos na ampliação do negócio a taxas acima do seu custo de capital. Desta forma ela gera valor ao acionista se aplica o caixa disponível em expandir o negócio. Como a empresa está reinvestindo seu capital de forma eficiente, é bem provável que decida não distribuir dividendos neste momento.

À medida em que que se torna difícil manter a rentabilidade, com novos investimentos tendo retornos marginais decrescentes, a taxa de retorno tende a convergir para o custo de oportunidade dos acionistas. A decisão da administração da empresa, então, ciente de que um novo investimento não iria entregar um retorno esperado por seus acionistas, deve ser de distribuir o dinheiro do caixa para os donos da companhia, reduzindo seu tamanho para uma estrutura que novamente a permita investir com altos retornos.

Portanto, ao contrário do que alguns pensam, dividendos não são “presentes”, mas parte retirada do patrimônio da companhia e direcionada para a conta corrente dos seus donos. Uma transferência de um bolso para o outro. Se a empresa paga um dividendo de R$1, e no dia do anúncio sua cotação fechou em R$10, no dia seguinte a cotação do último fechamento irá marcar R$9. No próximo dia, a cotação volta a variar de acordo com oferta e demanda do mercado.

Segmentos da economia como o de energia e de serviços públicos são mais férteis em exemplos de boas pagadoras de proventos. Recentemente tivemos o Grupo Cosan fechando o capital social da Comgás na bolsa por considerar que sua investida negociava a um preço muito aquém à sua geração de caixa livre. Isso acontece geralmente em com empresas bem geridas, com retornos satisfatórios, mas sem um horizonte de expansão, seja por atuar em mercados regulados ou por falta de novas demandas, como a Souza Cruz.

Se por um lado, olhar o pagamento de dividendos ajuda a encontrar de forma rápida empresas eficientes, geradoras de caixa (cuidado com os dividendos não recorrentes), por outro, se prender a esta visão única fatalmente te impede de analisar empresas de um outro grupo de empresas tão ou mais sólidas, que preferem usar o caixa na sua operação ao invés de distribuí-lo aos acionistas. Portanto, use o indicador do dividend yield como mais uma ferramenta de análise, mas não esqueça de outros fatores como o ROIC, crescimento, qualidade da gestão, governança, vantagens competitivas, valuation, etc.


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