Meu processo de investimento em 4 tópicos

Me peguei ontem, inspirado pela corrida na pista Cláudio Coutinho às margens da Praia Vermelha, se conseguiria bater o desafio de resumir meu processo de investimento em 280 caracteres. Descobri que seria mais fácil resumi-lo em um breve artigo. As linhas a seguir não são de forma alguma uma recomendação, mas o que faz sentido para mim, depurado de minha experiencia e minhas leituras ao longo desses quase 13 anos como investidor individual no Brasil. Talvez ao lê-las, você encontre uma coisa ou outra que também faça sentido para você. Posso adiantar que esse exercício foi muito bom para organizar ideias soltas na minha cabeça, e recomendo que você também tente.

A ideia não é fazer um manual, mas uma leve reflexão sobre os 20% mais importantes da minha filosofia onde eu gasto 80% do meu tempo focado de onde eu entendo que virão grande parte do meu retorno.

1.       Alocação de ativos. Muitos gostam de pregar sobre os benefícios da diversificação. Não discordo deles. Para mim, no entanto, a regra é outra. Gosto de pensar como a cabeça de um empresário, dono de um conglomerado de companhias. Dessa forma meu trabalho de alocação é decidir entre o quanto eu deixo no caixa, distribuído entre fundo DI e alguma coisa no tesouro IPCA (mais ou menos longo, a depender do ciclo econômico), e o quanto eu aplico nas minhas empresas. Nada contra quem aplica em ouro, fundos imobiliários, commodities ou mesmo bitcoin. Para mim funciona ter caixa e ações. Quem acompanha o trader-filósofo Nassim Taleb, deve estar lembrando da sua estratégia Barbell... Sim, é bem por aí mesmo. Pouco risco de um lado, grande potencial do outro.

2.       Carteira de ações concentrada. Certa vez li um dos grandes investidores, fonte de inspiração, e criador da Magic Formula, Joel Greenblatt, falar sua opinião sobre concentração de sua carteira. A pergunta era: se você chega em uma cidade pequena do interior, e conhece um empresário que possui de 6 a 10 empresas em diversos ramos naquela cidade e nos arredores, como postos de gasolina, padaria, farmácia, você diria que ele está maluco e tomando muito risco, ou acharia que está tudo bem? Pois bem, então a ideia na bolsa de valores é a mesma para ele. Se você tem aptidão para analisar recorrentemente, e consegue se dedicar um tempo suficiente para a atividade, este é o caminho para formar e crescer seu patrimônio. Para mim faz sentido. Few bets, Big Bets, Infrequent Bets, diria Monish Pabrai, outra fonte de inspiração.

3.       Sociedade em companhias com vantagens competitivas. Esse ponto caberia um artigo completo, portanto, não vou me aprofundar. De forma resumida, o que eu mais procuro na tomada de decisão de entrar como sócio em algum projeto, antes de fazer mil contas excel adentro, é se a empresa será capaz de apresentar de forma sustentável um alto retorno sobre o capital investido na sua operação nos próximos anos. Empresas que conseguem realizar este fato costumam ter alguma forma de barreira que as protegem da competição inerente ao sistema capitalista. Nessa análise entram muitos fatores, e a grande maioria você simplesmente não consegue enxergar olhando números isolados. Se conseguir encontrá-las antes de serem bem compreendidas pelo mercado, o que refletido nos valuations, tanto melhor.

4. Movimentos suaves. Pensar com a cabeça de um empresário ajuda nos momentos de ruídos na bolsa. Se o meu foco é participar dos lucros das minhas empresas ao longo dos próximos anos, por que eu deveria sair vendendo minhas ações pelo barulho gerado pela questão da precificação do diesel da Petrobras? Já está no meu preço ciclos econômicos positivos e negativos, inúmeras caneladas de governos de direita e esquerda, e mais alguns cisnes negros sobre os quais eu não tenho e menor controle. Assim, eu tenho uma singela planilha que atualizo uma vez ao ano com os preços das minhas posições, bem como as alocações entre ativos reais (empresas) e caixa (DI e tesouro). Nesse intervalo de tempo, costumo ler e pensar bastante, mas efetivamente atuo raramente entre compras e vendas.

  

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