domingo, 3 de março de 2019

Carteira Barganhas - Forte geração, preço atrativo, e um porém maiúsculo

A Qualicorp (QUAL3) é uma administradora de benefícios no segmento de saúde. Na prática isso quer dizer que a companhia faz o meio de campo entre as operadoras de planos de saúde (como Unimed, Amil, etc) e o cliente final, organizados em coletivos, como associação de bombeiros do Rio, conselho de contadores de Roraima, e por aí vai. A base de clientes atual conta com 589 Associações de Profissionais ou entidade de Classes, e mais de 750 empresas e órgãos governamentais, o que permite negociar com as operadoras preços e condições mais favoráveis, cobrando uma comissão do cliente. 


Seu modelo de negócios se baseia em uma receita recorrente que tem demonstrado crescimento, lucratividade e geração de fluxo de caixa excepcionais, sem a assunção de quaisquer riscos atuariais ou de reembolso, que ficam basicamente na mão das operadoras. A baixa necessidade de investimentos de capital e a dinâmica de capital de giro negativo do modelo de negócio deixam livre aos acionistas quase todo o capital que entra no caixa.

No seu capital social encontram-se dois principais acionistas: o fundador e CEO José Seripieri Jr. – o Júnior, com aproximadamente 16%, e a gestora de ações da XP com quase 10%. 70% está no free-float. E é justamente nessa parte que se começa a entender o motivo para as ações da Qualicorp estarem no limbo – não há um controlador.

2018 já não vinha sendo um bom ano para a companhia, que perdeu aproximadamente 12% de sua base de beneficiários pelo aumento do desemprego e reajustes de preços dos planos. Mas a derrocada final nas ações veio quando a direção anunciou um acordo de ‘lockup’ de ações e não-competição com seu fundador e CEO.


Pelo acordo, Júnior recebeu uma indenização de R$ 150 milhões para não criar qualquer negócio alternativo que pudesse vir a competir com a Qualicorp pelo prazo mínimo de seis anos. Como parte do acordo, Júnior concordou em não vender suas ações. O pagamento foi feito à vista, e o resultado dessa notícia, bem... foi um mergulho de 30% nas ações.

Em sua defesa, seu fundador alegou que utilizou o valor integral do acordo para comprar mais ações da companhia e que pela primeira vez desde seu IPO “eu fico numa posição all-in com a empresa, com um alinhamento de médio e longo prazo como há tempos não ocorria”.

Apresentando um ROIC de 28% e negociada atualmente a um EV/EBIT de 5,5x, QUAL3 é a nova integrante da Carteira Barganhas negociada a R$ 15,25. Entra no lugar de Via Varejo, cuja situação societária parece ser uma barreira difícil de ser vencida na corrida da transformação digital.


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3 comentários:

  1. Vamos combinar, o que ele fez foi uma baita picaretagem.

    A ação ficou barata, mas é foda, o que o cara faz abre um precedente muito ruim, que pode ser repetido.

    E investir num negócio que tem o dono meio picareta é complicado.

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  2. Excelente análise, muito boa mesmo. Esse ano iniciei os investimentos com base no livro do Joel Greenblatt, e entraram na carteira as primeiras 3 ações: QUAL3, CRPG5 e UNIP6.

    Forte abraço e fica com Deus.

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