Como as festas de fim-de-ano explicam a Bolsa brasileira

Em que ponto do ciclo de Bolsa estamos no Brasil? Peter Lynch descreve uma teoria que pode nos ajudar a entender  em seu ótimo livro One Up on Wall Street. Descobrir para onde estamos indo é muito difícil. Entender em que fase estamos no ciclo, por outro lado, é mais simples e pode ajudar bastante. Se você sabe onde está, é mais fácil se preparar. A Cocktail Theory, ou Teoria dos Coquetéis, funciona de forma simples para mostrar o comportamento humano nestas diferentes fases da Bolsa de Valores.

Interagindo com estranhos em eventos sociais, normalmente em grupos de umas dez pessoas, sempre surge a tradicional pergunta: "O que você faz da vida?" Ao que Peter respondia ser gestor de um fundo de investimentos chamado Magellan, quatro situações aconteciam, de acordo com o momento:

 

Situação 1: A Bolsa vem caindo ultimamente, e, portanto, não há muitas pessoas interessadas em ações na festa. Afinal de contas quem é o maluco que acha que com todas as dificuldades do país as ações voltem a ter um bom desempenho? Nesse caso, rapidamente a roda de conversa se esvazia, e as pessoas escapam para procurar alguém mais interessante para trocar uma ideia, como algum dentista que esteja passando na hora e possa tirar uma dúvida sobre aquele ciso que está nascendo.

Situação 2: Ocorre quando o mercado de ações já subiu uns 15% a 25% em relação à primeira situação. Neste caso, as pessoas até falam um pouco mais com Peter, mas logo em seguida voltam ao papo com o dentista - falar sobre clareamento dental é mais interessante para o público em geral do que aquele papo chato de ações.

Situação 3: O mercado já subiu 50%, e agora as pessoas passam a ignorar totalmente o dentista. Se você reparar bem, o próprio dentista, inclusive, está na roda fazendo perguntas a Peter sobre quais ações comprar e como investir melhor. Afinal de contas, quem se importa com limpeza dentária quando a riqueza está batendo à porta?

Situação 4: O mercado de ações continua em alta, e o número de gênios da Bolsa se multiplica por 10x. Agora até o garçom já recomenda a Peter ações para comprar na Bolsa. Nessa hora ele diz que é provável que as ações estejam próximas de atingir seu pico. A hora do ajuste de expectativas mais realistas está próxima e novamente ninguém irá se interessar por Peter nas festas. Até que um novo ciclo se inicie.

Lynch insiste que não devemos prever exatamente para onde a economia vai nos próximos trimestres, ou mesmo os mercados no curto prazo. Seu foco não estava na especulação de curto prazo, mas no seu processo de buscar por empresas de qualidade e pagar menos do que elas valem, independente da euforia ou pânico dos outros agentes do mercado. E, claro, justamente quanto mais incerteza e medo houver, mais fácil será sua tarefa.

“O problema é que as pessoas invariavelmente se sentem bem depois que o mercado sobe 600 pontos e as ações estão caras, e se sentem mal depois de uma queda de 600 pontos e há barganhas em abundância. O melhor método é comprar ações regularmente a despeito do sentimento do mercado."

Os mercados seguirão subindo e caindo nas próximas décadas. É da sua natureza e isso não vai mudar. Entender isso como algo positivo oferece uma grande oportunidade ao investidor pois lhe permite comprar nos momentos de incerteza e medo dos outros participantes do mercado com maior desconto. Como diria o próprio Lynch, quaisquer que sejam os métodos que você use para escolher ações, seu sucesso dependerá de sua capacidade de ignorar as preocupações do mundo o tempo suficiente para permitir que suas ações tenham sucesso. “Não importa o quão inteligente você é, não é a cabeça, mas o estômago que irá determinar o seu destino.”

E você, em que fase acha que estamos aqui no Brasil?

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