domingo, 30 de setembro de 2018

Ótimas empresas são ótimos investimentos! Será?


Uma confusão muito comum no mundo dos investimentos em ações é traçar a relação direta entre uma boa empresa, uma boa gestão, e um ótimo investimento. Estes conceitos podem ser bastante diferentes, e confundi-los é potencialmente perigoso pensando na caminhada de um investidor.


Já disse certa vez Howard Marks: “Não há nada mais arriscado do que a percepção generalizada de que não há risco”. As condições de investimento mais perigosas geralmente derivam de um excesso de otimismo. Se uma empresa está precificada quase à perfeição, uma leve decepção trimestral na opinião do investidor será suficiente para o colapso dos preços.

Uma ótima empresa pode sim se tornar um investimento de qualidade duvidosa. Mas antes vamos dar um passo atrás e definir o que é uma boa empresa, uma boa gestão e um bom investimento. Vale ressaltar que são conceitos subjetivos, ou seja, as definições a seguir são as melhores no meu entendimento pessoal.


Qualidade da empresa

A percepção da qualidade de uma companhia está intrinsecamente ligada à sua capacidade de produzir retorno sobre o capital investido consistentemente acima do seu custo de capital. Empresas com algum tipo de barreira à entrada de novos competidores e boa governança corporativa costumam ter essa característica, por conseguirem evitar a competição por clientes, permitindo praticar margens elevadas.


Qualidade da gestão

A essência da boa gestão é ser realista sobre a qualidade da empresa e adaptar a tomada de decisão para refletir esta realidade e maximizar o valor para a empresa. A qualidade do corpo administrativo será determinada pelas suas decisões de onde investir os recursos da companhia, as decisões de capitalização (o capital próprio ou dívida, e o montante) e as decisões de quanto dos lucros devem ser devolvidos aos acionistas, e de que forma.


Qualidade do investimento

Dadas as definições acerca de uma boa empresa e uma boa administração, podemos avançar para os ótimos investimentos. Para uma empresa ser um bom investimento, necessariamente precisamos adicionar na conta a variável preço. Afinal, a melhor empresa da Bolsa, com uma ótima gestão, pode ser um mau investimento se estiver muito cara.

                                                    
           


Separar boas empresas das más, e determinar se elas estão bem geridas não é tarefa nada simples, mas definir quais empresas são ótimos investimentos é fundamental para compreender onde estão as verdadeiras oportunidades e escapar de eventuais armadilhas. Ótimos investimentos exigem que você seja capaz de comprar uma empresa por um preço abaixo do que seus fundamentos indicam que ela vale. Resumindo, o investidor deve buscar por erros de percepção do mercado sobre a qualidade de uma empresa e de sua gestão.


Marks completa seu raciocínio com um exemplo. Um pensamento raso no mercado financeiro seria: “Esta é uma boa companhia; vou comprar a ação”. O investidor com pensamento superior vai mais longe: “É uma boa companhia, mas todo mundo acha que ela é excelente, e não é. Portanto, estão sobrevalorizando o papel. Vou vender”. Ou ainda, enquanto um investidor de pensamento raso pensa: “Eu acho que os ganhos da empresa vão cair. É venda”, o segundo enxerga “Eu acho que os resultados da empresa cairão muito menos do que as pessoas esperam, e a surpresa positiva elevará a ação. É compra.”


Uma grande parte dos investidores pensa somente em qualidade para determinar se determinado ativo é ou não arriscado. Mas ativos de alta qualidade podem ser arriscados se estiverem precificados de forma excessivamente otimista. A percepção de que o risco corporativo é baixo e o futuro da companhia é positivo, faz com que os preços dos ativos aumentem e, portanto, o risco do investimento seja alto. O problema que acontece a maioria das pessoas não distingue risco da empresa do risco do investimento. Por mais que a empresa continue sólida, se seu preço estiver muito acima de seu valor, a assimetria deixou de ser positiva.


Independentemente da questão de vantagens competitivas e gestão, o nível de risco do investimento é determinado em grande parte pela relação entre preço e seu valor. Não há um bem tão bom que não possa se tornar sobreprecificado e, portanto, arriscado.

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