Uma
confusão muito comum no mundo dos investimentos em ações é traçar a relação
direta entre uma boa empresa, uma boa gestão, e um ótimo investimento. Estes
conceitos podem ser bastante diferentes, e confundi-los é potencialmente
perigoso pensando na caminhada de um investidor.
Já disse certa vez Howard Marks: “Não há nada mais arriscado do que a
percepção generalizada de que não há risco”. As
condições de investimento mais perigosas geralmente derivam de um excesso de
otimismo. Se uma empresa está precificada quase à perfeição, uma leve decepção trimestral na opinião do investidor será suficiente para o colapso dos preços.
Uma
ótima empresa pode sim se tornar um investimento de qualidade duvidosa. Mas
antes vamos dar um passo atrás e definir o que é uma boa empresa, uma boa
gestão e um bom investimento. Vale ressaltar que são conceitos subjetivos, ou
seja, as definições a seguir são as melhores no meu entendimento pessoal.
Qualidade da empresa
A percepção da qualidade de uma companhia está intrinsecamente ligada à sua
capacidade de produzir retorno sobre o capital investido consistentemente acima
do seu custo de capital. Empresas com algum tipo de barreira à entrada de
novos competidores e boa governança corporativa costumam ter essa característica, por conseguirem evitar a
competição por clientes, permitindo praticar margens elevadas.
Qualidade da gestão
A
essência da boa gestão é ser realista sobre a qualidade da empresa e adaptar a
tomada de decisão para refletir esta realidade e maximizar o valor para a
empresa. A qualidade do corpo administrativo será determinada pelas suas
decisões de onde investir os recursos da companhia, as decisões de
capitalização (o capital próprio ou dívida, e o montante) e as decisões de quanto
dos lucros devem ser devolvidos aos acionistas, e de que forma.
Qualidade do investimento
Dadas
as definições acerca de uma boa empresa e uma boa administração, podemos avançar
para os ótimos investimentos. Para uma empresa ser um bom investimento,
necessariamente precisamos adicionar na conta a variável preço. Afinal, a melhor empresa da Bolsa, com uma ótima gestão,
pode ser um mau investimento se estiver muito cara.
Separar
boas empresas das más, e determinar se elas estão bem geridas não é tarefa nada
simples, mas definir quais empresas são ótimos investimentos é fundamental para
compreender onde estão as verdadeiras oportunidades e escapar de eventuais
armadilhas. Ótimos investimentos exigem que você seja capaz de comprar uma
empresa por um preço abaixo do que seus fundamentos indicam que ela vale.
Resumindo, o investidor deve buscar por erros de percepção do mercado sobre a
qualidade de uma empresa e de sua gestão.
Marks
completa seu raciocínio com um exemplo. Um pensamento raso no mercado
financeiro seria: “Esta é uma boa companhia; vou comprar a ação”. O investidor
com pensamento superior vai mais longe: “É uma boa companhia, mas todo mundo
acha que ela é excelente, e não é. Portanto, estão sobrevalorizando o papel.
Vou vender”. Ou ainda, enquanto um investidor de pensamento raso pensa: “Eu
acho que os ganhos da empresa vão cair. É venda”, o segundo enxerga “Eu acho
que os resultados da empresa cairão muito menos do que as pessoas esperam, e a
surpresa positiva elevará a ação. É compra.”
Uma
grande parte dos investidores pensa somente em qualidade para determinar se determinado
ativo é ou não arriscado. Mas ativos de alta qualidade podem ser arriscados se
estiverem precificados de forma excessivamente otimista. A percepção de que o
risco corporativo é baixo e o futuro da companhia é positivo, faz com que os
preços dos ativos aumentem e, portanto, o risco do investimento seja alto. O
problema que acontece a maioria das pessoas não distingue risco da empresa do
risco do investimento. Por mais que a empresa continue sólida, se seu preço
estiver muito acima de seu valor, a assimetria deixou de ser positiva.
Independentemente
da questão de vantagens competitivas e gestão, o nível de risco do investimento
é determinado em grande parte pela relação entre preço e seu valor. Não há um
bem tão bom que não possa se tornar sobreprecificado e, portanto, arriscado.
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