sexta-feira, 18 de maio de 2018

O segredo para atravessar as crises da bolsa


A pergunta se repete: “Estou com um dinheiro sobrando. Onde invisto?” Esta sobra geralmente é considerada como um peso morto em termos de retorno, e o interlocutor só se acalma quando essa posição é alocada em algum ativo. Poucos percebem que segurar uma parcela da sua carteira em caixa, ao invés de investir em títulos longos do Tesouro ou em ações, funciona muito bem em momentos imprevisíveis. 


“Caixa”, neste contexto, refere-se às aplicações de baixo volatilidade que podem rapidamente virar dinheiro - um fundo DI ou o Tesouro Selic são bons exemplos. Ter dinheiro na mão oferece ao investidor a flexibilidade para comprar um ativo a preços muito descontados em momentos turbulentos na Bolsa. O problema é que só costumamos lembrar desta lição quando a oportunidade aparece – e geralmente ela não dura muito tempo.



Eis que na última semana as ações brasileiras sofreram forte queda, explicadas seja por notícias negativas entre os cenários político e macroeconômico, ou por mera questão de fluxo, resultaram em uma queda acentuada. E aí, o que fazer nessa hora que sua carteira está derretendo?




Como o Oráculo de Omaha lida com as crises – caso real

Vamos usar uma breve passagem: o ano era 2008, um mês após a falência da Lehman Brothers, os mercados de ações estavam em queda livre no mundo inteiro. Direto do olho do furacão, Buffett, sempre ele, publicou uma carta no New York Times, aconselhando os investidores a seguirem seu exemplo e comprarem ações. Olhando para trás é fácil ver que os mercados se recuperaram, batendo recordes sucessivos e o Velhinho de Omaha ganhou muito dinheiro. À época, porém, poucos compraram, com medo do que poderia acontecer nos dias seguintes.


Repare o detalhe: só ter coragem não adiantaria. Naquele momento ele tinha dinheiro em caixa para investir. Sua visão pode ser resumida na seguinte passagem:


Dinheiro disponível combinado com uma dose de coragem em uma crise não tem preço.


Não se engane. Em países tidos como desenvolvidos também existem crises e dias de altíssimas incertezas e volatilidade. Os maiores acertos dos investidores de sucesso surgem exatamente nesses períodos. Sua alocação em caixa pode ser vista como uma opção de compra (uma Call como chamam na Bolsa) de qualquer ação, com duas vantagens: não tem data de vencimento nem preço de exercício. A característica mais atraente das opções de compra é que elas oferecem ao seu detentor um ganho potencial ilimitado, ao restringir a perda máxima para o prémio pago pelo comprador.


O incrível é que por mais que essas oportunidades de tempos em tempos sempre apareçam, esse tipo de investidor sempre será a exceção, não a regra. A maioria ou não terá a coragem para agir quando há sangue nas ruas, ou faltará o dinheiro disponível para ir às compras. Investidores de sucesso não costumam desperdiçar essas raras oportunidades! Claro, essa posição em caixa na carteira carrega um custo de oportunidade, relativo à diferença nos retornos entre outros ativos de desempenho potencialmente mais alto e o retorno sobre as aplicações de liquidez imediata.


Não se preocupe com a espera até que a oportunidade apareça. Ao contrário de uma Opção de Compra tradicional, não existe prazo limite, não há pressa. A irracionalidade dos mercados pode demorar a aparecer, mas ela não falha. Uma hora ou outra alguma notícia desagrada o mercado e a Bolsa despenca. O investidor tampouco precisa definir de antemão o preço exato da compra. Em vez disso, ele pode esperar sereno e focado, para investir esse caixa quando houver assimetria bastante convidativa entre risco e retorno.


Segurar posições de liquidez na carteira é considerado por muitos como um ativo sub-ótimo a longo prazo, especialmente em momentos como o que víamos no início do ano, com Bolsa brasileira em forte alta. Mas algumas vezes, períodos de incerteza oferecem oportunidades de ouro abertas pelos movimentos exagerados do mercado. Nesse momento ter essa uma pequena parcela em caixa é fundamental, pois não há garantias que as janelas irão durar por muito tempo. A semana que passou serve como lição: não considere a posição em caixa como um peso, mas como uma opção de compra sem vencimento.


Siga no Twitter e Facebook

2 comentários: