A pergunta se repete: “Estou com um dinheiro sobrando. Onde invisto?”
Esta sobra geralmente é considerada como um peso morto em termos de retorno, e
o interlocutor só se acalma quando essa posição é alocada em algum ativo. Poucos
percebem que segurar uma
parcela da sua carteira em caixa, ao invés de investir em
títulos longos do Tesouro ou em ações, funciona muito bem em momentos
imprevisíveis.
“Caixa”, neste contexto, refere-se
às aplicações de baixo volatilidade que podem rapidamente virar dinheiro - um
fundo DI ou o Tesouro Selic são
bons exemplos. Ter dinheiro na mão oferece ao investidor a flexibilidade para
comprar um ativo a preços muito descontados em momentos turbulentos na Bolsa. O
problema é que só costumamos lembrar desta lição quando a oportunidade aparece
– e geralmente ela não dura muito tempo.
Eis que na última semana as
ações brasileiras sofreram forte queda, explicadas seja por notícias negativas
entre os cenários político e macroeconômico, ou por mera questão de fluxo,
resultaram em uma queda acentuada. E
aí, o que fazer nessa hora que sua carteira está derretendo?
Como
o Oráculo de Omaha lida com as crises – caso real
Vamos usar uma breve passagem:
o ano era 2008, um mês após a falência da Lehman Brothers, os mercados de ações
estavam em queda livre no mundo inteiro. Direto do olho do furacão, Buffett,
sempre ele, publicou uma carta no New York
Times, aconselhando os investidores a seguirem seu exemplo e
comprarem ações. Olhando para trás é fácil ver que os mercados se recuperaram,
batendo recordes sucessivos e o Velhinho de Omaha ganhou muito dinheiro. À
época, porém, poucos compraram, com medo do que poderia acontecer nos dias
seguintes.
Repare o detalhe: só ter
coragem não adiantaria. Naquele momento ele tinha dinheiro em caixa para
investir. Sua visão pode ser resumida na seguinte passagem:
“Dinheiro
disponível combinado com uma dose de coragem em uma crise não tem preço“.
Não se engane. Em países tidos
como desenvolvidos também existem crises e dias de altíssimas incertezas e
volatilidade. Os maiores acertos dos investidores de sucesso surgem exatamente
nesses períodos. Sua alocação em caixa pode ser vista como uma opção de compra
(uma Call como chamam na Bolsa) de qualquer ação, com duas vantagens: não tem
data de vencimento nem preço de exercício. A característica mais atraente das
opções de compra é que elas oferecem ao seu detentor um ganho potencial
ilimitado, ao restringir a perda máxima para o prémio pago pelo comprador.
O incrível é que por mais que
essas oportunidades de tempos em tempos sempre apareçam, esse tipo de
investidor sempre será a exceção, não a regra. A maioria ou não terá a coragem
para agir quando há sangue nas ruas, ou faltará o dinheiro disponível para ir
às compras. Investidores de sucesso não costumam desperdiçar essas raras
oportunidades! Claro, essa posição em caixa na carteira carrega um custo
de oportunidade, relativo à diferença nos retornos entre outros ativos de
desempenho potencialmente mais alto e o retorno sobre as aplicações de liquidez
imediata.
Não se preocupe com a
espera até que a oportunidade apareça. Ao contrário de uma Opção de Compra
tradicional, não existe prazo limite, não há pressa. A
irracionalidade dos mercados pode demorar a aparecer, mas ela não falha. Uma
hora ou outra alguma notícia desagrada o mercado e a Bolsa despenca. O
investidor tampouco precisa definir de antemão o preço exato da compra. Em vez
disso, ele pode esperar sereno e focado, para investir esse caixa quando
houver assimetria bastante convidativa entre risco e retorno.
Segurar posições de liquidez
na carteira é considerado por muitos como um ativo sub-ótimo a longo prazo,
especialmente em momentos como o que víamos no início do ano, com Bolsa
brasileira em forte alta. Mas algumas vezes, períodos de incerteza oferecem
oportunidades de ouro abertas pelos movimentos exagerados do mercado. Nesse
momento ter essa uma pequena parcela em caixa é fundamental, pois não há
garantias que as janelas irão durar por muito tempo. A semana que passou serve como lição: não
considere a posição em caixa como um peso, mas como uma opção de compra sem
vencimento.
Excepcional liçao
ResponderExcluirEsse é aquele post pra guardar e reler de tempos em tempos!
Sucesso
Muito obrigado, meu caro!
ResponderExcluir