terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O que une os grandes investidores


“O investimento bem-sucedido é o casamento de uma calculadora e um pensamento contrário.” - Seth Klarman

A merecida fama que Warren Buffett fez ao longo de sua caminhada no mundo dos investimentos em ações acaba por fazer com que o grande público não chegue até histórias tão admiráveis quanto a do Oráculo de Omaha. Ao percorrer pelas carreiras de grandes nomes como Walter Schloss, Peter Lynch ou Carl Ichan é interessante notar que os caminhos trilhados por eles são bastante distintos entre si, embora todos tenham obtido um enorme sucesso.

Alguns são considerados membros da escola de valor, enquanto outros são mais identificados com a escola de crescimento. Enquanto alguns apostam em turnarounds, outros focam em empresas que não devem mudar nos anos a seguir. Apesar de a história  dos grandes investidores nos mostrar que não há somente uma única forma de se obter sucesso na Bolsa, um fator os une.

Para simplificar o que gera um desempenho acima da média, vamos fazer uso de uma matriz 2 × 2. Em um eixo você pode estar certo ou errado. No outro eixo você pode pensar como o consenso ou diferente do consenso. Obviamente, se você está enganado, você não ganha dinheiro por muito tempo. A única maneira pela qual um pode investidor fazer retornos extraordinários é buscar alternativas que passem ao largo do consenso. E, claro, sua tese precisa estar correta.



As oportunidades de retornos potenciais relevantes, portanto, surgem quando o investidor consegue enxergar ativos que, por algum motivo circunstancial, estão mal precificadas pelo consenso de mercado. A chave para o desempenho superior é, portanto, pensar independente e diferente. É a existência de uma lacuna entre o valor estimado e o preço de mercado que impulsiona a tomada de decisões de investimento. Se você compra as mesmas ações sobre as quais todos estão comentando, é provável que as mesmas estejam perfeitamente precificadas pelo consenso do mercado.

Vale um alerta pertinente: embora pareça simples, a prática está longe do trivial. Ter um comportamento genuinamente independente passa primeiro por bastante estudo, e, segundo e mais importante, por se colocar em situações desconfortáveis em momentos de grande incerteza.

Uma análise diligente e bem fundamentada é primordial, e é melhor feita por pessoas interessadas, que vão a fundo nas histórias das empresas. Os grandes investidores lêem constantemente e estão constantemente tentando aprender mais sobre as forças que movem aquela indústria. Se você não está disposto a esse trabalho simplesmente compre ETF, invista através de um bom fundo, ou procure uma casa de análise independente.

Por fim, algumas pessoas lidam bem com essas ocasiões de desconforto emocional por estar em lado oposto ao da maioria, outras nem tanto. Peter Lynch já disse que para ganhar dinheiro, você deve encontrar algo que ninguém mais conhece, ou fazer o que os outros não irão fazer porque têm mentalidades rígidas. Nesse jogo, ter o temperamento adequado é fundamental. O investimento independente bem-sucedido trata de explorar as lacunas entre fundamentos e expectativas criadas quando a maioria pende a algum extremo, seja otimista ou pessimista. Os melhores retornos caminham rumo aos investidores pacientes e agressivos quando lhes são oferecidos um preço atraente por um ativo.


Não seja um rebelde sem causa
 
Note, não estou advogando apenas pela rebeldia. O mercado em muitos casos pode estar correto em sua avaliação. Quando uma sala de cinema está em chamas correr na direção contrária à saída não deve terminar bem. O ponto aqui é que você precisa se sentir confortável apostando contra a maioria quando a diferença entre a qualidade que você percebe em determinada companhia e as expectativas refletidas no seu preço corrente apresenta uma assimetria de retornos muito favorável ao seu lado.

Esta independência é difícil porque o maior gap costuma coincidir frequentemente com o desejo de fazer parte do grupo, seja nas grandes quedas ou nos momentos de euforia. Muitas vezes, essas empresas são mal interpretadas, por atravessarem momentos de incertezas. E o mercado detesta incerteza. Exemplos recentes abundam. Aposto que sem muito esforço você deve ter lembrado de uma certa empresa de varejo que há dois anos atrás estava precificada por um quinto de seu valor patrimonial e de lá para cá teve seu preço multiplicado por 80x. Ou então as duas grandes exportadoras de commodities, que diante de uma mistura de caos político interno e preços internacionais em baixa eram negociadas muito abaixo de seus múltiplos históricos.

Evite a todo custo simplesmente aceitar como verdadeiro o senso comum. Na prática isso significa comprar ações caras e ignorar as baratas. Questione tudo. Procure pensar e analisar a fundo. Dá trabalho e contém uma boa dose de desconforto emocional, mas essa forma de investir produz retornos realmente acima da média quando se encontra o que foi mal interpretado pela maioria.
  
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