Michael Mauboussin, estrategista de ações do Credit Suisse,
diz em seu livro “A equação do sucesso”: “Há uma maneira rápida e fácil de
testar se determinada atividade envolve habilidade: pergunte-se se você
consegue perder de propósito. Em jogos de habilidade, é claro que você pode
perder intencionalmente, mas ao jogar numa roleta ou na loteria, não”.
A verdade é que as atividades que dependem exclusivamente da
habilidade ou da sorte são muito raras no mundo real. Em sua maioria, o
resultado final do que fazemos deriva de uma combinação entre ambos. O sucesso
nos investimentos, principalmente em períodos mais curtos, definitivamente se
enquadra no segundo grupo. No exemplo citado no livro de Mauboussin, cada
esporte tem uma mistura diferente desses dois componentes (habilidade e sorte),
como podemos notar que na imagem abaixo. Para ele, investir está bem mais perto
da sorte do que habilidade.
Chegando ao fim de 2017, podemos perceber mais uma vez um dos
erros mais comuns do investidor, amadores e mesmo alguns profissionais: interpretar
o sucesso ou o fracasso dos últimos doze meses determinados unicamente por sua
habilidade. Muitos mantêm-se céticos ou resistentes à oferecer qualquer crédito
a esse tipo de sorte por entender que isso desvalorizaria o talento ou sua
dedicação.
Esse pensamento é profundamente equivocado e fatalmente leva
a conclusões perigosas. É altamente improvável que alguém consiga manter o que
não merece, sem uma compreensão de como e por que obteve determinado resultado.
Não é o que fazemos aleatoriamente que produzirá retornos a longo prazo, mas o
que fazemos recorrentemente.
Saber o que você tem controle e o que depende de fatores
aleatórios é essencial para uma boa tomada de decisão. A História nos conta que
investidores que sobreviveram ao longo das décadas costumam ser humildes,
reconhecendo que não têm 100% de certeza sobre quase nada no mundo dos
investimentos. Assim, criam importante mecanismo de defesa ao focar nas reais
probabilidades dos eventos a sua frente.
“As pessoas tendem a pensar que meu sucesso, ou o que quer
que você queira chamá-lo, tem sido porque sou um ótimo tomador de decisão. Eu
acho que é realmente porque sou menos confiante ao tomar decisões. Em outras
palavras, eu nunca sei nada realmente. Tudo é uma probabilidade.” - Ray Dalio
Se por um lado ignorar a relevância da sorte nos resultados
de curto prazo é um erro, por outro, o investidor pode ter papel ativo em três
frentes:
(1) Não dependa dos resultados de curto prazo. Quanto menor
for seu horizonte de investimento, mais sua carteira estará exposta aos sabores
da aleatoriedade. Para fugir dessa armadilha, invista o dinheiro que não será
necessário no próximo mês, e fique sereno diante das oscilações do mercado de
renda variável – ou mesmo tome proveito delas para aumentar as posições nos
momentos de queda.
(2) Ao invés de tentar controlar suas emoções, experimente se
afastar por uns dias do home broker. Garanto que é uma experiência libertadora.
No fim das contas você irá perceber que se poupou de muitos “frios na barriga”
desnecessários, principalmente em períodos de descontrole dos mercados. Essa
atitude pode evitar com que você se considere um gênio nos bull markets e tomar
riscos excessivos, ou botar muito peso nas suas costas nos bear markets e sair
do jogo justo quando a bolsa está mais barata.
(3) Escolha uma carteira minimamente diversificada de ativos
com retornos potenciais assimétricos, aqueles que em caso dos ventos positivos
ele tem um potencial enorme a frente, e, em cenários onde a sorte for madrasta,
oferece maior resiliência. Ações de ótimas empresas, quando precificadas pelo
Mr. Market como empresas comuns, são um bom exemplo de baixo risco associado a
alto retorno.
Reconhecer o papel que a sorte, ou aleatoriedade se preferir,
desempenha em nossas vidas, não tem qualquer demérito. Nos permite avançar com
mais humildade e menos ego - um grande passo para o sucesso no investimento a
longo prazo. Um grande investidor, Fred Wilson, escreveu certa vez que não
sugere que qualquer um siga seus passos profissionais: “Não vai funcionar, a
menos que você tenha muita sorte”.
Tudo sobre o futuro é incerto, mas vale o esforço de tentar descrever essa incerteza. Daí o círculo de competência a que se refere Buffet ser tão importante
ResponderExcluirBoa reflexão André. Realmente, nem tudo é somente esforço e habilidade.
ResponderExcluirAbraços Feliz Ano Novo