“Nenhum
piloto sábio, não importa o quão talentoso e experiênte, ignora sua checklist."
Certa vez Charlie Munger comparou a atividade do
investidor com a de um piloto de avião. Ambos passam a maior parte do tempo em
atividades rotineiras, e, em uma parcela curta de tempo precisam lidar com
fortes turbulências, que, se não forem respondidas com propriedade podem gerar
danos irreparáveis. O fato é que, por mais inteligentes e bem informados que
sejamos, nesses momentos de extremos, investidores e pilotos podem agir de
forma emocional.
Ao agirmos previsivelmente sob o extinto de
preservação, muitas vezes incorremos no risco de deixar de lado atitudes que na
maior parte do tempo nos parecem óbvias. Portanto, o piloto toma atitudes antes
de levantar voo para que nos momentos de agitação não precise tomar atitudes
importantes. As regras vão desde checar a parte elétrica, motores até os
coletes de paraquedas para momentos de escape.
No mundo dos investimentos podem ser nas grandes quedas
ou nas altas incessantes, nosso cerebro desliga do seu modo racional e entra no
automático. E daí surge a necessidade de termos uma pequena lista de lembretes
para que ajamos sob o princípio da racionalidade mesmo sob pressão. Lembre-se
que as grandes fortunas na bolsa se formaram justamente quando se age
racionalmente quando a maioria está nas pontas excessivamente pessimista ou
otimista.
Nossa mente às vezes nos faz truques e é melhor nos
cuidar e fazer o melhor para mitigar esses vieses que afetam nossa tomada de
decisão. Como Warren Buffett disse uma vez: "Regra
No. 1: nunca perca dinheiro. Regra No. 2: Nunca se esqueça da regra número um.
objetivo na criação de uma lista de verificação é evitar erros óbvios e
previsíveis".
Se você estiver interessado em se aprofundar nesse
tema, sugiro que leia o bom livro do escritor Guy Spier, “The Education of a
Value Investor”. Eu poderia inclusive citar aqui as listas de grandes
investidores. Mas o ponto é que a lista deles não necessariamente deve ser a
sua, porque cada um tem sua personalidade e seu estilo ao investir, portanto
cada um deve fazer uma reflexão em um momento de tranquilidade e definir quais
regras melhor se adaptam à sua personalidade. A lista de checagem a seguir é minha,
fique à vontade para adicionar ou retirar, a ideia é dar uma dimensão do que se
adequa ao meu perfil:
1.
Essa empresa possui um histórico consistente de
rentabilidade? Verifique se a empresa
tem conseguido, ao longo dos ciclos economicos, obter retornos sobre seu
capital investido acima do seu custo do capital utilizado para obter aqueles
retornos. Se a resposta for negativa na maior parte do tempo, provavelmente ela
está destruindo valor e a queda de seu preço não a torna barata, mas sim o
mercado está ajustando a percepção sobre sua qualidade. Evite essas empresas e promessas
que dessa vez é diferente.
2. Essa empresa
possui algum tipo de vantagem competitiva durável que a permitirá que continuar
sendo lucrativa no futuro? Uma
empresa que consegue ter retornos acima de seu custo é uma ótima empresa,
certo? Depende. O trabalho do investidor passa por ter em sua carteira de ações
empresas que serão capazes ter continuar lucrativas mesmo que existam
concorrentes famintas por abocanhar partes desses lucros. Empresas que
apresentam vantagens competitivas duráveis serão capazes de se manter
lucrativas por muitos anos. A maioria, no entanto, com o passar do tempo
simplesmente torna-se mais uma na competição, entregando retornos ordinários.
3.
Os sócios controladores estão alinhados com os meus
objetivos, ou seja, estão focados em gerar valor no longo prazo ou atrás de
ganhos espúrios e rápidos? Em
qualquer negócio que se entre, independente se o sócio é um amigo ou um total
desconhecido, é importante saber antes do aperto de mãos, se ambos buscam os
mesmos objetivos. Controladores focados em agir pensando não só no resultado do
próximo trimestre para “bombar” o preço da ação, mas em satisfazer seus
clientes, em criar uma percepção de sua empresa é insubstituivel em relação aos
outros concorrentes é vital para quem investe pensando em formar patrimonio
sustentável no longo prazo.
4. Quais os
riscos associados à operação dessa empresa e qual seu impacto em caso de um
cenário negativo se materializar? Como
já dissemos em posts anteriores, o mercado financeiro é cercado de incertezas.
Um boa empresa pode sim, ter algum revés pouco provável que prejudique
definitivamente. Estimar a
probabilidade dos cenários negativos e o tamanho de seu impacto são cruciais no
planejamento daquele investimento, bem como sua participação dentro da carteira
de ações.
5. Ao preço que
ela está sendo negociada atualmente, existe uma assimetria favorável entre os
riscos e seu retorno potencial? Em
muitas vezes investidores se “apaixonam” por boas empresas e esquecem de olhar
para a relação valor x preço. Essa variável, menos glamurosa do que encontrar
barreiras à entrada ou olhar governança, é tão importante quanto as outras
variáveis descritas, pois é quem ditará o tamanho da sua margem de segurança. Caso
você compre um valuation que precifique tudo dando certo para uma empresa,
automaticamente aquele se transformará em um investimento frágil, pois qualquer
alternativa àquele cenário será negativo.
Como o psicólogo Daniel Kahneman no ensina em seu já
clássico "Rápido e Devagar, duas formas de pensar", seres humanos são
incorrigivelmente inconsistentes na elaboração de julgamentos simples com a
oferta de informações. É provável que você tire conclusões diferentes com dados
idênticos em ocasiões diferentes, mesmo quando nada fundamentalmente tenha
mudado, devido a variações no contexto, alterações no seu humor, mudanças na
demanda de sua atenção e memória, e assim por diante.
Reflita o que você poderia ter ajudado a evitar esses
problemas para começar. Essas são as perguntas a serem adicionadas à sua checklist.
Em muitos casos o simples vence o complexo nos investimentos. Ter uma singela
lista das suas prioridades pode evitar diversos erros que lhe custariam caro.
Simples, mas muito eficaz!
Excelente post André.
ResponderExcluirEu tenho vários Check Lists. Ajudam muito em várias coisas.
André, diante do que você comentou no item 1, poderia me ajudar com uma dúvida?
Onde se consegue dados históricos de ROIC e outros indicadores das empresas? No Fundamentus só dá o atual.
Obrigado e fica com Deus
Valeu, meu caro. Quanto à sua dúvida, no próprio fundamentus existe um espaço de histórico, com gráficos que permitem uma visualização da caminhada das companhias.
Excluirabraço!
Concordo, Xará! Value Investing é a melhor forma de escolher boas ações na Bolsa. Mas não esqueçamos sempre de deixar a carteira variável dentro de uma estratégia geral de Alocação de Ativos.
ResponderExcluirAbraço!
Certíssimo!
ExcluirAbç!
Parabéns pelo poster, recheado de boas referências e adequado ao que vivemos hoje, muita informação, mas pouca seletividade, principalmente, por falta de foco (checklist).
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