segunda-feira, 28 de novembro de 2016

10 coisas que aprendi nos últimos dez anos


Como passou rápido. Há dez anos atrás o Brasil ainda surfava a onda das commodities, e nós acreditávamos que nada mais nos pararia rumo ao futuro. Isso foi antes da grande crise do crédito imobiliário americano, das crises das dívidas soberanas europeias, e de alguns 7 x 1 que sofremos nos campos da política/macroeconomia aqui pelo Brasil (o do Mineirão seguramente foi o menor deles).

Eu, por minha vez, à época ainda um estudante de economia na PUC do Rio tentava me situar no mundo (essa última parte ainda não mudou de todo). Poderia contar alguma história bonita, mas a verdade é que meu início no mercado financeiro foi atabalhoado, confuso, buscando me aproveitar dos ganhos imediatos que os IPO`s ofereciam quase que semanalmente.

Numa época em que Eike Batista era o rei da bolsa, e pouco se ouvia sobre Jorge Paulo Lemann, cada nova entrada de uma empresa no pregão nacional era fonte de expectativa, e quase certeza de lucro “rápido”. Como era fácil cair na armadilha de se sentir inteligente naquela época...

Não irei aqui me alongar: para quem não viveu aquele período, saiba que muita coisa mudou. Certamente, os próximos dez anos nos reservam muitas surpresas, e viveremos num mundo diferente do que habitamos em 2016. Vale a ressalva aqui: não tente adivinhar qual será a próxima surpresa. Alguns até acertam, mas provavelmente não serão os mesmos que acertarão a próxima. O ser humano não é dotado de poder preditivo.

No entanto, aprendi que, ciclos econômicos a parte, algumas coisas simplesmente não mudam. E é justamente sobre esses aprendizados que quero falar, em retrospectiva aos dez anos da minha entrada no fascinante e caótico mundo dos investimentos. Não as encare como verdades absolutas, dogmas a serem seguidos a ferro e fogo – pois não existe tal coisa neste mundo. São, porém, somente a minha visão do que funcionou ou não ao longo dos últimos dez anos.


1.         Evitar grandes erros > movimentos geniais
Seja cético ao analisar ações, procure pelo básico. Enquanto muitas pessoas passam muito tempo procurando por grandes casos de turn-around, olhe primeiro se a empresa apresentou indicadores consistentes de rentabilidade nos últimos anos, se ela tem uma boa estrutura de capital, liquidez razoável, etc. Muito difícil acertar a porrada da década. Por outro lado, encontrar boas empresas a preços descontados com bons retornos de longo prazo é mais fácil.

2.         Simplicidade > Complexidade
Operações mais complicadas como derivativos e long x short podem ser feitas, desde que você saiba o que está fazendo. Mas o que irá trazer o grosso do seu ganho de longo prazo, na verdade, são coisas bem menos glamorosas como alocação de ativos ideal para você e um controle rígido de custos transacionais.

3.         Livros > jornais
Jornais muitas vezes são escritos em cima do evento, e jornalistas têm o péssimo hábito de procurar sempre por causalidades espúrias. A tentativa de explicar em poucas linhas o porquê da bolsa, universo permeado pela complexidade da interação humana, ter se movimentado para cima ou para baixo é uma cilada para o investidor, pois pode levá-lo a acreditar que entende as alavancas do mercado financeiro e assim conseguiria prever os movimentos futuros. Ninguém tem esse poder. Nem Soros, nem Stuhlberger, muito menos Buffett. Ninguém.

Livros, por outro lado, são escritos em anos, pelas grandes mentes da humanidade, e, mais importante, sob a perspectiva de anos – não de horas. Os bons escritores do mercado financeiro têm a humildade de saber que, por mais preparados que sejam, a aleatoriedade possui grande influência nos resultados de curto prazo, e o papel que nos cabe é principalmente estarmos preparados para os diversos cenários: “heads I win, tails I don't lose much”, diria Mohnish Pabrai.

4.         Micro > macro
Muito complicado interpretar os movimentos macroeconômicos num mundo tão globalizado como o que vivemos hoje em dia (apesar de em pleno 2016 ainda termos pessoas lutando contra essa realidade). Quando juntamos a esse cenário as questões políticas, se torna uma missão quase impossível. De cabeça consigo lembrar de poucos notáveis como Soros, Druckenmiller e Stuhlberger. Muito mais fácil, portanto, formar um patrimônio através da análise dos fatores microeconômicos, ou seja, o que afeta o desempenho econômico-operacional das ótimas empresas às quais você pode se associar pelos próximos anos.

5.         Risco > volatilidade
A essa altura já deu para perceber que o foco dos meus investimentos foi orientado para resultados em anos, não em meses ou semanas. Sendo assim, faria sentido usar a volatilidade de uma ação em relação à média do mercado (que os chamados “experts” logo batizaram de beta) como uma medida de risco para aquela empresa?

Uma maior variação da cotação no mercado acionário pode-se dever a inúmeros motivos, entre eles o meu preferido: os agentes da bolsa ainda não entenderam exatamente como “funciona” aquela empresa. E isso é ótimo, porque se você se dedicar a entender sobre aquela empresa, o Mr. Market pode lhe oferecer ótimos descontos para se tornar sócio de uma excelente companhia.
 
Por outro lado, existem inúmeros casos de ações ditas estáveis, que pouco oscilam na bolsa, que, de uma hora para outra, quebram ou veem o setor em que atuam apresentar alguma mudança estrutural capaz de jogar seu preço para baixo de forma tão rápida que nem o mais ágil operador será capaz de evitar perdas definitivas em seu patrimônio.

6.         Análise qualitativa > análise quantitativa
Quem já leu posts anteriores desse blog sabe que os números de uma empresa, como ROIC, EV/EBIT, crescimento entre outros são sim bastante importantes para a análise. Entretanto, números não são suficientes se seu objetivo é tornar-se sócio num negócio pelos próximos anos ou décadas.

Você não quer entrar numa empresa lucrativa e barata, mas com um sócio majoritário que rouba o caixa ao fim do mês ou mesmo está associado a crimes ambientais, quer? Ou ainda, se associar a uma empresa que até está indo bem no momento, com bons resultados trimestrais, mas que você sabe que não tem qualquer barreira para se diferenciar dos entrantes que fatalmente irão “roubar” parte significativa desses lucros?

7.         Longo prazo > curto prazo
Se você acompanha esse blog já devia imaginar que esse item não poderia faltar. O curto prazo é um universo onde quase todos os agentes do mercado habitam. Muito mais empolgante, pois é recheado de ação e muita emoção. O que não se demora a perceber é que as operações de curto prazo são fortemente guiadas pela aleatoriedade em função da complexidade inerente aos mercados financeiros.

Já no longo prazo a concorrência se reduz bastante. Menos animada, pois exige que você fique meses ou anos a fio sem nenhum movimento espetacular. Você escolhe as empresas que atendem a seus critérios e senta sobre as mãos. No longo prazo o mercado costuma premiar as melhores ações, enquanto que no curto prazo o que move as ações são os fluxos de capitais. Ou seja, se você está se divertindo na Bolsa, meu amigo, sinto dizer que você está fazendo alguma coisa errada.

8.         Menos > mais
Demorou alguns anos para que eu aprendesse que eu não preciso ser a pessoa mais ativa do mundo para obter resultados satisfatórios com meus investimentos. Durante anos ouvi de diversas pessoas: “não invisto na bolsa pois não tenho tempo de acompanhar o mercado”. Nada mais errado. Você é pago na bolsa por fazer algumas poucas escolhas certas, evitar várias erradas e depois esperar o efeito dos ganhos compostos ao longo dos anos. Ficar olhando os movimentos diários das cotações, se movimentando em reação a esses movimentos aleatórios do bipolar Mr. Market, aumentam as chances dos erros pois você fatalmente estará agindo pelo calor de alguma emoção.

9.         Temperamento adequado > habilidade
Como disse certa vez Warren Buffett, não é necessário ter um QI de 180 para obter sucesso na bolsa. Por outro lado, se você não tiver o temperamento adequado, ou seja, não conseguir sentar sobre suas mãos e esperar pacientemente ao longo de anos as empresas às quais você se associou darem resultados consistentes, então terá sérios problemas. Acertar a melhor empresa, com os melhores fundamentos, não adiantará nada se no momento em que ela subir 5%, você “realizar o lucro” (argh). Certa vez li uma frase que conseguiu resumir muito bem essa ideia: “Tempo na bolsa é mais importante do que acertar o tempo da bolsa”.

10.       Experiência > Estudo formal 
A melhor forma de aprender na bolsa é investindo, praticando. Bolsa é muito mais arte do que ciência. Isso quer dizer que nem sempre o que deu certo para determinado investidor de sucesso dará para você. O autoconhecimento tem papel fundamental nesse sentido, e isso, infelizmente, não se aprende numa sala de aula.

Não estou aqui pregando que não se deve estudar, longe disso. Estou dizendo somente que, reconhecendo o valor do ensino formal, estudo sem prática não leva a muito longe, pois não envolve as emoções humanas inerentes às incertezas as quais todos estamos expostos na bolsa.

“If your goal is to beat the market, an MBA or a Ph.D. from a top business school will be of virtually not help.” Joel Greenblatt


Conclusão

Vale ressaltar: essas são tão somente as minhas percepções do que funciona no investimento em bolsa no Brasil, mas não tenho a pretensão de ser o dono da verdade. O verdadeiro aprendizado é que náo importa o estágio de desenvolvimento em que estamos, o mais importante é manter sempre a humildade frente o desconhecido. Saber que há muito por aprender, e, principalmente, entender que há ainda muito mais que simplesmente não podemos saber antes dos eventos ocorrerem. Essa é a verdadeira sabedoria.


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