Uma coisa que muitas pessoas não
percebem sobre o investimento na bolsa é que não se trata apenas de um jogo de
números. Saber o básico de finanças é interessante, mas muitos contadores e
economistas ótimos não entendem o que separa as grandes empresas das meramente
boas.
A verdade é que
encontrar investimentos consistentes no longo prazo é um exercício intelectual.
A chave do sucesso está em analisar e descobrir as vantagens competitivas dos
negócios.
Quando uma empresa é bem sucedida,
obtendo um alto retorno sobre o capital investido (ROIC) em seus negócios, a
tendência é que os concorrentes tentem replicar o seu modelo para ganhar uma
fatia dos lucros. Vantagens competitivas, ou fossos econômicos como batizou
Warren Buffett, funcionam como barreiras à entrada desses novos entrantes,
protegendo esta empresa da concorrência predatória, que fatalmente reduziria
sua margem de lucro.
O valor de uma empresa é igual ao
dinheiro que ela será capaz de gerar no futuro. Assim, um negócio que pode gerar
lucros acima da média por um longo tempo vale mais do que outro que pode ser
rentável apenas por um curto período de tempo.
Um erro comum que os investidores,
novos ou experientes, caem é apostar em uma empresa com um desempenho
impressionante momentâneo no mercado de ações, mas sem barreira à entrada, cujo
desempenho foi resultado de um período de volatilidade, ou um fator temporário.
Neste caso, ele aceita pagar um preço
alto por estas ações que apresentaram um desempenho atraente nas últimas semanas,
para só depois de algum tempo ver como o aumento da concorrência reverte a
rentabilidade desta empresa para a média.
Não
se deixe enganar por estas Ilusões
Barreiras à entrada são
características estruturais inerentes ao negócio, e a dura realidade é que
algumas empresas são intrisicamente melhores do que outras. Produtos da moda,
tamanho, execução perfeita, e mesmo a propalada cultura corporativa não
criam vantagens competitivas de longo prazo. São positivos, mas não o
suficiente.
Mesmo a gestão de uma companhia é
importante, mas importa menos do que você pensa. Portanto, se tiver que
escolher, aposte no cavalo, não no jockey. Investir é basicamente traçar
probabilidades, e uma empresa com grande vantagem competitiva, gerenciada por
um CEO médio terá mais chance de sucesso a longo prazo do que uma sem
vantagens, gerida por um ótimo executivo.
As
quatro formas de vantagem competitiva estrutural
Encontrar uma empresa com retornos
sobre o capital investido recorrentes e uma das quatro características listadas
a seguir, é um forte indicio de ter a frente uma empresa com um fosso
econômico.
1. Ativos Intangíveis
Marcas populares nem sempre são
rentáveis. Se uma marca não consegue fazer os consumidores pagarem mais por sua
marca em relação à do concorrente, mesmo sendo mais conhecida, ela não tem uma
vantagem competitiva.
Patentes são maravilhosas, pois
limitam a concorrência. Mas os desafios legais são o maior risco para um fosso econômico oriundo de patentes. O melhor tipo de fosso regulamentar é criado por
uma série de pequenas regras, ao invés de uma grande que poderia ser mudada de
uma hora para outra.
Exemplos: Alpargatas, Natura e Arezzo.
2. Dificuldades de mudança
Empresas que conseguem criar
dificuldades para o cliente trocar de marca ou serviço criam custos de mudança.
E se esse cliente é menos propenso a mudança, a empresa pode cobrar mais, o que
ajuda a manter altos retornos sobre o capital.
Os custos de mudança vêm em muitas
formas: alta integração com o negócio do cliente, custos monetários, e o custo
de reapredizagem num novo modelo, para citar apenas alguns. Bancos fazem um monte de dinheiro com o fosso
de custos de mudança.
Exemplos: Itaú, Vivo e Linx.
3. Efeito rede
A empresa se beneficia do efeito de
rede quando o valor de seus produtos ou serviços aumenta com o número de
usuários, pois depende da interação dos usuários. Cartões de crédito,
plataforma de vendas online, e algumas trocas financeiras são bons exemplos.
O efeito rede é um tipo extremamente
poderoso de vantagem competitiva, pois o vencedor daquele mercado costuma levar
todo o premio, já que as pessoas irão escolher aquela empresa justamente que já
tem mais clientes, criando uma bola de neve.
Exemplos: Qualicorp, BMF Bovespa e
Cielo.
4. Menores custos
Em muitos casos, ser um peixe grande
em um lago pequeno é melhor do que ser um peixe maior em uma lagoa maior.
Concentre-se no tamanho relativo em um mercado, não no tamanho absoluto da
empresa. Entregar um produto ou serviço mais barato do que qualquer outra
companhi pode ser bastante rentável.
Exemplos: Pão de Açúcar, Via Varejo e
Fibria.
Onde
encontrar
É mais fácil criar vantagem
competitiva em alguns setores do que em outros. A vida não é justa. Barreiras
são absolutas, não relativas. A quarta melhor empresa em uma indústria
estruturalmente atraente pode ter uma vantagem econômica maior do que a melhor
empresa em um setor competitivo.
Escolha
bem sua especialidade
Empresas com fortes vantagens
competitivas podem obter retornos sobre o capital investido superiores a 20%
consistentemente, taxa que muito poucos gestores de investimento conseguem
entregar durante longos períodos de tempo. A oportunidade de se tornar sócio
neste tipo de empresa, especialmente quando estão baratas, tem potencial para
construir uma riqueza que pode te surpreender.
Um ditado bastante
popular no mercado de ações fala que você só deve investir naquilo que entende.
Assim, uns investem em empresas de varejo, outros de commodities, ou bancos.
Transforme sua especialidade em descobrir barreiras à entrada. Costuma pagar muito
bem!
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