quinta-feira, 23 de junho de 2016

Valor ou Crescimento: qual é a filosofia vencedora?


Tradicionalmente o mercado financeiro divide a análise de empresas entre as escolas de investimento em ações de crescimento e em ações de valor. Profissionais de Bolsa normalmente diferenciam as duas abordagens como ideias opostas. Para reforçar essa tese, abundam pesquisas acadêmicas com dados históricos atestando ora a superioridade de uma abordagem, ora a superioridade de outra. 

  • Ações de valor (Value): pelo menos temporariamente, são negociadas abaixo do que deveriam valer por seus fundamentos. Normalmente, estão em indústrias "chatas", já estabelecidas, ou impopulares. Principal representante: Ben Graham. Exemplo: Comgás
  • Ações de crescimento (Growth): suas receitas esperadas devem crescer a um ritmo mais rápido do que o do resto do mercado. São comumente encontradas em indústrias emocionantes ou novas. Principal representante: Phil Fisher. Exemplo: Raia Drogasil


A meu ver, no entanto, esta distinção é míope e pode levar a alguns equívocos perigosos. Tomar uma decisão inteligente de investimento vai além da análise valor vs. Crescimento, tendo em vista que os dois estão intimamente relacionados. Analisá-los separadamente pode ocultar um lado negativo de determinada ação.

Esta rivalidade é, portanto, uma falsa dicotomia. Todo o mais constante, empresas de rápido crescimento valerão mais do que as de crescimento lento. Ou seja, o crescimento deve ser visto como um componente de valor, não um "rival" excludente. Muitas das empresas indicadas pela Magic Formula, por exemplo, são capazes de ao mesmo tempo apresentar valuations descontados e taxas de crescimento acima da média do mercado.


O que pensa o maior investidor de todos os tempos

Para Warren Buffett, admirador confesso tanto de Graham quanto de Fisher, o investimento em valor é a única maneira de realmente investir, uma vez que pagar um preço acima do valor estimado - geralmente na esperança de vendê-lo por um preço ainda mais elevado - deve ser considerada especulação.

Seguindo seu raciocínio, o crescimento deve ser entendido como uma das variáveis a se considerar na avaliação de uma empresa. Ele pode ser uma parte importante, ou um driver menos crucial - dependendo do negócio em particular. O crescimento pode ainda, em algumas situações, destruir valor - acontece quando uma empresa investe em iniciativas cujas taxas de retorno são menores que seu custo de capital. Em sua carta anual em 1992, Buffett escreveu:

"A maioria dos analistas acredita que deve escolher entre as duas abordagens habitualmente pensadas em oposição: "Crescimento" e "Valor" e de fato, enxergando qualquer mistura dos dois como uma forma de intelectual água e óleo. Nós vemos isso como um pensamento confuso (no qual, preciso confessar, me empenho há anos). Em nossa opinião, as duas abordagens são unidas intrinsicamente: o crescimento é um componente no cálculo do valor, constituindo uma variável cuja importância pode variar de insignificante a enorme e cujo impacto pode ser negativo, bem como positiva."



De fato, em muitos casos o crescimento da empresa pode acabar por destruir seu valor. O processo de expansão na maioria dos casos não é simples, e as "dores do crescimento" podem fazer com que um negócio antes lucrativo passe a operar com retornos menores do que o seu custo de capital. 



Fuja da sabedoria popular: foque no que importa

Esqueça esse dogma do mercado financeiro. O valor de uma empresa depende de diversas variáveis​​, entre as quais estão o retorno sobre o capital investido, a oportunidade de escala para reinvestir lucros, e o grau em que ela é capaz de utilizar dívida de forma saudável para reduzir seu custo de capital.

Dividir ações em valor e crescimento pode ser conveniente a um grupo de consultores e gestores para demonstrar erudição, mas, no mundo prático, a maneira inteligente de se dividir ações é entre as boas e as más empresas. 


 
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2 comentários:

  1. Qual é o indicador do custo de capital? Como calculo o custo de capital e como descubro se ele é maior que o Roic?

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    1. Tiago, formalmente em finanças corporativas o custo do capital das empresas é chamado de WACC - Weighted Average Cost Of Capital, que em português significa custo médio ponderado do capital. Esse indicador é calculado através da média entre o custo de captação da empresa no mercado de crédito (capital de terceiros) e o custo do retorno exigido do capital investido pelos acionistas (capital próprio).

      Exemplo: se o capital de uma empresa é formado por 1/2 de dívida e 1/2 de capital próprio, e seus custos são 12% e 16% respectivamente, seu WACC será 14%.

      abç!

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