quarta-feira, 13 de abril de 2016

O método para multiplicação de sua carteira de ações



Recentemente li um livro muito bom, de título bastante sugestivo: 100 baggers, stocks that return 100-1and how to find then (ações que multiplicam por cem vezes o seu preço). Não, não houve erro de digitação. Como encontrar empresas que multiplicaram por cem – uma missão bastante difícil, mas longe de ser impossível. O autor chega, inclusive, a citar diversos exemplos nos últimos cinquenta anos no mercado americano: de Amazon e Apple a algumas menos conhecidas do público como Monster Beverage e Eletronic Arts (EA). 
O livro é altamente recomendável, mas aqui irei falar de um ponto em especial, talvez o mais importante para obter esse milagre da multiplicação: a visão de longo prazo levada a sério. Não estou falando aqui de um ou dois anos, mas de dez ou vinte. Para ilustrar a importância desse fator para seus investimentos, o autor do livro, Chris Mayer contou uma história real, que deu origem a um método tão simples quanto eficaz na construção de riqueza através do investimento em ações.


O método da lata de café

O método se baseia na história real de um cidadão comum, que, sem muito estudo na área de finanças, foi comprando ações de empresas conhecidas e as guardando dentro de uma lata de café velha (sim, antigamente os investidores ganhavam certificados da compra de suas ações). Não eram grandes aportes, pois ele não era um homem rico, mas disciplinado – todo mês uma nova apólice entrava na lata de café.
 

Após a sua morte, abriu-se a tal lata e qual não foi a surpresa quando entre algumas ações que estavam no mesmo preço da compra, ou mesmo que haviam perdido valor, havia uma dúzia de ações que haviam multiplicado por algumas dezenas de vezes! Aquele homem havia deixado uma fortuna para a sua família, simplesmente porque não havia caído no canto da sereia de ficar negociando constantemente suas ações, na esperança de acertar topos e fundos, como a grande maioria fazia na época (parece que até hoje o ser humano ainda não aprendeu esta lição).

A história é simples, mas contém uma inestimável lição: o seu pior inimigo nos investimentos não é a crise da China, tampouco os juros do FED, nem não é a Dilma (ok, pode ser um pouco a Dilma). É você! Nós seres humanos temos inúmeros vieses de auto-proteção, que vem desde as épocas dos homens das cavernas, capazes de causar enormes prejuízos quando se trata de investir dinheiro na Bolsa.

Além do medo e da ganância, um dos maiores causadores de erro é o tédio. Um investidor entediado é capaz de trocar uma ação de uma ótima empresa por uma pior pelo simples fato de querer alguns minutos de aventura no mercado financeiro.

Veja por exemplo as ações da Apple. Apesar de terem subido 22.500% entre 1990 a 2012, no mesmo período elas tiveram desempenho negativo em 48% dos pregões. Em dois momentos chegaram a perder 80% do seu valor.
 
Em outros casos uma boa empresa pode ficar por anos sem qualquer movimentação relevante, até que num curto período ela dobre de valor. Outros caíram na besteira de vender suas ações após altas de 5% ou 10% (irrisórias se comparadas com 22.500%). Ou seja, mesmo em casos de extremo sucesso de longo prazo existem armadilhas para que o investidor se desfaça do papel.

A figura da lata de café, na história, tem a função primordial de isolar todos essas falhas comportamentais, e deixar que as ações façam seus caminhos tortuosos e irregulares em paz. Note que, assim como na história, não existe qualquer certeza de que todas triunfarão - e por esse fato é importante alguma diversificação.  A boa notícia é que não é preciso que a maioria se dê bem: o sucesso de algumas compensa muitas vezes pelas poucas empresas que não performaram como esperado.

Ou seja, se você tem em mãos uma carteira diversificada com algumas grandes empresas que acredita terem bons desempenhos pelos próximos anos a seguir (altos ROIC), o meu conselho é: encontre sua lata de café e guarde bem suas ações. Ignore o curto prazo, repleto de notícias exageradas pela mídia e investidores gananciosos/ apavorados/ entediados. É onde a maioria falha. 


Pense décadas à frente, não trimestres

A grande maioria tende a se concentrar nos anúncios de resultados trimestrais ou anuais das empresas, e vencer as estimativas dos analistas de Bolsa. Mas alguns gestores - incluindo Warren Buffett - acreditam ser mais útil pensar onde a empresa estará em uma década ou mais.

O próprio Buffett já citou em uma de suas cartas: "Há muito tempo, Sir Isaac Newton nos deu três leis da dinâmica física, conhecidas por Três leis de Newton, que foi um trabalho de gênio. Mas o talento de Sir Isaac parece não ter se estendido aos investimentos: ele perdeu uma quantia significativa na bolha especulativa da Companhia dos Mares do Sul. Anos depois, ainda traumatizado, perguntado se voltaria a investir, saiu-se com essa: "Posso calcular o movimento das estrelas, mas não a loucura dos homens”. Uma pena. Um pouco mais de persistência e ele poderia ter descoberto a Quarta Lei de Newton: nos investimentos em Bolsa, retorno cresce à medida que a dinâmica diminui".

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Um comentário:

  1. O Método do livro "100 Baggers" é sobre "Valuation"?
    Parecido ao que Buffet (potencial de valorização) e Seth Klarmann fázem (pensamento contrário)?

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