domingo, 28 de fevereiro de 2016

Quando (não) vender uma ação?



O tema de hoje pode ter diversas respostas, dependendo da escola que o autor mais simpatiza. Mesmo dentro da linha fundamentalista, a maioria dos livros de value investing tem algumas respostas clássicas, que embora corretas, o autor que aqui vos fala, as julga incompletas. Vamos a elas:

1.         Quando surgir uma oportunidade melhor de compra: a escola do value investing tradicional diz que caso apareça uma oportunidade mais flagrante de preço abaixo do valor da ação do que a ação que o investidor tem em sua carteira, o mais indicado é vender a ação antiga e comprar a nova.

2.         Quando a história por trás daquela ação mudar de curso para pior. Acontece bastante. Ao longo do tempo, empresas que antes eram excelentes perdem o rumo, seja por mudança do corpo técnico, seja por mudanças regulatórias, ou mesmo devido a uma inovação que alterou o mercado onde ela atua. Nesses casos, o melhor a se fazer é vender, independente do preço em queda e partir para a próxima. 

Fazem sentido, não? E realmente estão corretas. Porém, a melhor resposta, vem do grande investidor e autor do bestseller Common Stocks, Uncommon Profits (de 1958), que inverte a questão: quando não vender uma ação?
  
“Se o trabalho foi feito corretamente no momento da compra da ação, a hora certa de vender é nunca.” 


Fisher consegue em uma única frase resumir sua filosofia de investimento. Seu maior trabalho é encontrar ótimas empresas, negociadas a preços atraentes. Por isso mesmo, vale a pena investir um tempo estudando as características daquela empresa, seus pontos fortes e fracos, o mercado onde ela atua, e principalmente, qual seu potencial de crescimento. Por fim, analise se o preço está atraente para a compra. 

A partir daí a história nos ensina que os investidores mais bem-sucedidos foram aqueles que tiveram paciência, dando tempo suficiente para que as empresas atingissem todo seu potencial, a despeito dos movimentos de altas e baixas nos preços de suas ações. 

Pense bem: qual a melhor forma de ganhar dinheiro de forma consistente: acertando a direção das ações nas horas seguintes ou se tornando sócio em empresas bem geridas e lucrativas? 

Ou seja, retornos extraordinários no longo prazo seguem uma disciplina extraordinária em manter suas posições anos a fio. É tentador vender ao longo do caminho, mas o sucesso nos investimentos vem daquelas ações que você mantem em seu portfolio por anos ou mesmo décadas.


O trabalho não termina na compra
  
Desenvolver a convicção de não vender uma ação é algo que se aprende com o tempo. Muitos investidores analisam as ações que tiveram grandes desempenhos e pensam: "Se eu soubesse sobre essa empresa teria comprado aos baldes desde o início". Mas será que realmente teriam a convicção de mantê-las durante todo o período (certamente passaram por diversas quedas durante a trajetória ascendente)? 

Portanto, só se dê ao trabalho de encontrar ótimas empresas se posteriormente for desenvolver a convicção de segurá-las no longo prazo.

A maior parte do seu dever de casa está no momento da decisão de compra, mas certamente não acaba aí. A análise na sequência da decisão de compra é ainda mais importante pois será ela a responsável por desenvolver a convicção para manter suas posições nos momentos ruins do mercado, quando outros investidores estão vendendo, ou analistas de bancos e corretoras recomendam ficar longe da ação.  

Muitos investidores gastam todo o seu tempo tentando encontrar grandes empresas apenas para vendê-las depois de ganhos rápidos porém insignificantes, ou assim que aparece o primeiro problema com a empresa. Se a administração está executando uma boa gestão e o racional não mudou, a história tem mostrado através de muitos investidores de sucesso que vale a pena esperar pelo poder dos retornos compostos. Sua ação poderá lhe surpreender com ganhos de 10, 20 ou 30 vezes o valor investido em alguns anos.  

Encontre grandes empresas, desenvolva a convicção de mantê-las. Não parece muito complicado, concorda? Quando você estiver pronto para ser criticado por suas convicções, estará pronto para ganhar dinheiro com ações.


Seja um vendedor relutante
 
Claro, às vezes você vai ser surpreendido com uma perda desagradável em alguma empresa. Mas é por isso que você possui uma carteira de ações. Investir em ações é interessante justamente porque não é necessário acertar em todas, sequer na maioria - o ganho de uma única ação pode ser suficiente para trazer seus investimentos para o campo positivo. Deixar passar esse upside por medo de perder é como gastar uma grana em um carro, mas nunca tirá-lo da garagem. 

Então respondendo à pergunta que originou esse texto, se se você tiver feito bem a sua pesquisa e comprou uma ação após um estudo cuidadoso, siga o conselho de Phil Fisher e pense muito antes de se desfazer de suas participações em boas empresas.

Agora, caso ainda não tenha se convencido, talvez queira escutar uma segunda opinião de um investidor com um histórico razoável no mercado de ações:
 
"Nosso período favorito com uma ação é para sempre". Warren Buffett


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2 comentários:

  1. Porra muito bacana teu post André! Sou fã de Fisher!! Ele frisa também em escolher empresas que tenham um bom departamento de P&D... enfim. Me deixa no comentário uma sugestão de livro fundamentalista, eu te indico esse http://www.saraiva.com.br/acoes-comuns-lucros-extraordinarios-1-edicao-4282309.html abraço!

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  2. Valeu, pobrevirtu! Phil Fisher é um craque, e a dica foi excelente.

    forte abraço!

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