quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Consuma notícias sem ser consumido por elas


Não é uma simples coincidência que os sites de corretoras têm um destaque especial as notícias do mundo econômico do dia. Quanto mais rápida a informação circula e quanto mais atenção que você presta a ela, mais provável será que você negocie ações com mais frequência – o que certamente irá aumentar o lucro da corretora, mas, provavelmente, te tornará mais pobre.

A mídia financeira ganha com a mudança: o foco está sempre sobre o que acaba de mudar, e esse fenômeno vem sendo ampliado cada vez mais rápido. Se você é um especulador, ok, a mudança é praticamente a única coisa que importa: seus ganhos vêm de antecipar corretamente as alterações de curto prazo. Mas se você é um investidor, como é o perfil desse blog, a notícia do dia-a-dia importa muito pouco: seus resultados não provem de antecipar as mudanças nos mercados financeiros, mas de evitar mudanças na sua estratégia de investimento.


O ponto é que ser um consumidor inteligente de notícias financeiras é mais difícil do que parece. Ao mesmo tempo em que você deve se manter bem informado, também deve resistir à tentação de responder a cada movimento dos mercados. Essa tentação pode se tornar irresistível durante falhas de mercado, como no momento atual, quando diariamente sentimos não ter controle sobre o caos e quase qualquer ruído sobre o que se decide nos bastidores políticos parece o início de uma nova "tendência".

Quanto mais de perto você observar os movimentos curto-prazistas do mercado, mais eles vão parecer flutuar e mais convencido você se tornará que você pode prever o que vai acontecer a seguir. Se você olhar constantemente um objeto em movimento, ele parecerá muito maior do que realmente é.

Até a década de 80, a maioria dos investidores observavam como os preços das ações se moviam, se tanto, uma vez por dia - no Jornal Nacional à noite ou no jornal de papel, somente no dia seguinte. Hoje, a Internet e as mídias sociais nos permitem observar os mercados financeiros em movimento contínuo, os preços mudam centenas de vezes por minuto. Isso quase certamente explica por que tantos investidores acreditam que o mercado de ações tornou-se mais volátil, sem que necessariamente isso seja verdade.

No livro The Little Book of Behavioral Investing, o autor James Montier cita um estudo que constata que levam apenas duas ou três repetições de um estímulo para o cérebro humano criar a expectativa de que desenvolveu sequência previsível, e calcular um tipo de média móvel dos resultados passados que coloca a maior parte do peso nos últimos oito resultados. Décadas atrás, quando as notícias chegavam de forma mais lenta, os investidores se concentravam sobre os oito dias anteriores - um período de quase duas semanas. Hoje, como as notícias chegam instantaneamente, quem acompanha de muito perto acaba se fixando no que aconteceu nos últimas horas (pra não dizer minutos ou segundos).

O grande risco decorrente desse fato é a falsa impressão de que se sabe o que está fazendo, que a Bolsa vai continuar fazendo isso, e que o seu curso futuro é, portanto, previsível. A partir daí o caminho está aberto para a tomada de riscos acima do prudente, ou, no outro extremo, a perda de boas oportunidades de compra com a Bolsa em patamares muito baixos.

Nestas circunstâncias, o desafio de todo investidor, seja em qualquer grau de senioridade em que ele esteja, é consumir a notícia sem ser consumido por ela. Provavelmente, o passo mais importante a se dar é filtrá-la sabiamente, através de intermediários cujo julgamento você possa confiar.

Eis algumas sugestões que tem me ajudado nessa luta inglória:





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2 comentários: