quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Dois setores diferentes na Bolsa


Uma das grandes vantagens da formula mágica criada por Joel Greenblatt, que vem batendo o mercado há décadas, é o fato de conseguir através de sua simplicidade comparar empresas de diversos setores da economia com todas suas particularidades, em um único ranking. Através das ferramentas ROIC e EV/EBIT, separamos da multidão empresas com vantagens competitivas que porventura estão descontadas na Bolsa.  

A exceção fica somente para empresas de concessão pública (como distribuidoras de energia e de gás) e instituições financeiras (bancos e seguradoras). 


O objetivo desse post não é fazer qualquer juízo de valor dos setores em questão, mas entender as peculiaridades desses dois setores em relação aos outros. Afinal, por que algumas boas empresas brasileiras como Coelce, Cemig, Itaú, Porto Seguro, entre outras, não constam em nosso ranking das barganhas da bolsa?


Setor Financeiro  

Aqui a explicação é um pouco mais técnica, mas podemos descomplicar. O instrumental de trabalho das instituições financeiras é (surpresa!)... dinheiro. A consequência dessa constatação óbvia é que seus balanços ficam distorcidos frente aos outros setores na relação capital de terceiros (muito grande) x capital próprio, além de apresentar um capital investido gigante. Ou seja, nossos indicadores de preço (EV/EBIT) e qualidade (ROIC) ficam incomparáveis. 

Por outro lado, o EBIT (lucro operacional) fica distorcido, pois sua conta exclui os ganhos financeiros, que é, obviamente, de onde vem o grosso dos ganhos nesse setor.

Nesse caso, recomenda-se olhar os múltiplos de P/L (preço sobre lucro), sob a ótica de preço, e ROE (lucro sobre patrimônio) sob a ótica da rentabilidade da instituição, que excluem a parcela de capital de terceiros. É interessante também dar uma olhada no nível de inadimplência da instituição em relação aos seus pares, como forma de ver como ela se protege do risco de crédito.


Setor de Concessão Pública (Utilities)

Segundo o próprio Greenblatt, empresas desse setor por serem muito regulados pelas autoridades públicas, das esferas federais, estaduais ou municipais, acabam não entrando no jogo capitalista de oferta vs. demanda. Ao mesmo tempo em que encontram uma concorrência reduzida, e, em muitos casos atuam em monopólio, seus retornos costumam ser regulados por contratos e suas revisões. Resumindo: ganhos regulares, mas limitados. 

Não estamos aqui fechando as portas para o investimento nessas ações. Em alguns casos, por esse perfil de maior previsibilidade e baixo custo operacional, pode-se encontrar boas pagadoras de dividendos – as chamadas vacas leiteiras. Nesse caso vale mais uma análise individual de cada empresa, principalmente das características de seus contratos. 

Mas atenção: apesar de apresentarem baixa volatilidade por longos períodos, o risco real desse setor é de intervenção estatal nas regras do jogo, como vimos há alguns anos atrás no setor de energia e nas concessões rodoviárias.


Conclusão

A magic formula como já vimos, tem inúmeras vantagens, e um histórico louvável, mas não funciona bem para ações desses dois setores. O melhor a se fazer é adotar um olhar diferente nesses casos, para não perdermos oportunidades que venham a aparecer.


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3 comentários:

  1. Fala André. Qual "formula" voce recomenda usar nesses dois setores? Tenho um carinho especial pelo setor financeiro no Brasil, banco no Brasil é quase como um "ganho certo".

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    1. Fala! O setor financeiro no Brasil realmente não pode ser ignorado pelos resultados consistentes que vem apresentando há anos. Para reconhecer boas ações neste setor, te indico usar o ROE e o P/L, apesar de não serem comparáveis com empresas de outros setores, funcionam bem na comparação entre as próprias instituições financeiras.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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