quarta-feira, 2 de setembro de 2015

4 ciladas da sua mente contra você (e como ganhar com elas)



Ao contrário do que muitos imaginam, a chave para ser um investidor bem sucedido passa menos por conhecimento profundo em finanças corporativas e mais por evitar as ciladas comportamentais que nossa mente cria ao longo do caminho. Os seres humanos não são sempre racionais, por quê? Estamos sujeitos a numerosos preconceitos em nossa tomada de decisão, que, em última análise, resultam em decisões sub-ótimas. 

Sem a pretensão de nos alongarmos em um amplo estudo psicológico, listamos abaixo os quatro erros cognitivos mais comuns nos investimentos, e algumas formas de lidar com eles, e até mesmo lucrar, por que não? 


1. Viés de Ancoragem
  
Os indivíduos usam um conjunto inicial de informações como ponto de referência - uma âncora - para tomar decisões. Por exemplo, os consumidores estão condicionados a pensar que o produto de um supermercado está barato só por estar com desconto, mas o único fato estabelecido é tão somente que ele está mais barato que no dia anterior. Da mesma forma é o preço do petróleo, neste momento considerado baixo no atual patamar de US$ 50 / barril, quando se está condicionado aos US$ 100 / barril dos últimos anos. Mas se ao invés de nos prendermos à âncora dos últimos anos e olharmos uma série de trinta anos, os US$ 100 é que serão considerados elevados, e os US$ 50, normais.

                            
O resultado desse viés na prática é bem claro: em todos os meses desse ano, economistas entrevistados pelo Wall Street Journal previram que os preços do petróleo iriam subir. Erraram em todos. Adivinhem o que eles estão prevendo para esse mês?
 



2. Viés de Confirmação

  
Você será mais propenso a procurar informações que apoiem sua ideia de investimento, do que aquelas que a contradigam. É muito difícil sacudir noções preconcebidas sobre uma ação, mesmo que injustificadas. Por exemplo, quem acreditava que OGXP3 era uma ação boa, fatalmente encontraria no Google alguma matéria jornalística confirmando que de fato essa ação tinha um mar azul à sua frente. Da mesma forma, quem procurasse encontrar fatos obscuros, também encontraria algumas matérias confirmando as suspeitas negativas. Como um julgamento onde só se ouve o advogado de defesa, ignorando solenemente o promotor do caso. O viés de confirmação pode ser muito poderoso em distorcer seu julgamento.

3. Viés de Retrospectiva


Percepção que ocorre quando se acredita que o acontecimento de determinado evento passado era previsível e completamente óbvio. "Eu sabia o tempo todo" - se você disser essas cinco palavras ao investir, tem grandes chances de estar influenciado por este viés. Em consequencia, ele causa a ilusão de que você é capaz de prever certos eventos futuros. Isso faz com que você seja excessivamente confiante e, possivelmente, fazer apostas demasiadamente fortes em eventos impossíveis de se prever, especulando sem a devida gestão de risco. Hoje em dia, muitos dizem que sabiam exatamente o que aconteceria com a mesma OGX do exemplo anterior. Caminho clássico para se entrar em outras furadas pela frente.

4. Aversão à perda


Estudos mostraram que as pessoas valorizam perdas e ganhos de forma assimétrica. Mais especificamente, realizar uma perda de, digamos, R$1.000, tem impacto três vezes maior que um ganho do mesmo valor. Consequentemente, o investidor tende a segurar ações ruins em queda e vender prematuramente suas boas ações em alta. À primeira vista, esse comportamento já seria responsável por limitar retornos e deixar as perdas correrem soltas. Imagine agora o custo de oportunidade de se manter uma ação “perdedora”, o impacto sobre o desempenho da carteira é ainda maior.
 

Como prevenir vieses – e até mesmo ganhar com eles


A má notícia é que simplesmente não há pílula para evitar esses vieses; afinal somos seres humanos e não inventaram até o momento em que escrevo esse texto uma máquina capaz de retirar as emoções do cérebro humano. O melhor a se fazer, portanto, é não dar espaço para essas emoções quando se trata de investimento em bolsa. Colocando de uma forma prática, temos algumas formas de fazer isso:

  • Fuja das fontes de ruído: corretoras, sites e revistas de finanças deseducam ao incentivar movimentos especulativos de curto prazo, e costumam sempre alertar para movimentos que já passaram (olham pelo retrovisor).
  • A nossa querida Magic Formula (ou outro método quantitativo à sua escolha) evita procurar ações nos lugares errados (comprar "sonhos", empresas caras e queridinhas da mídia). Tira uma parte da graça, mas é por uma ótima causa: evita-se o canto da sereia no mercado.
  • Crie hobbys, leia bons livros e blogs/sites. Eles irão te afastar da tentação de ficar olhando para o Home Broker o tempo inteiro. Ao invés de fazer como a maioria, que passa a maior parte do tempo girando sua carteira sem saber exatamente aonde quer chegar (ineficiente e custoso para 99% das pessoas), pense em estrategias com horizonte de 10 anos.
  • Limite seu número de operações no mês: imagine que você só tenha direito a doze operações no ano. Isso limitará sua ânsia por ação, e, consequentemente, te obrigará a pensar muito mais antes de uma compra.
  • Procure conversar com pessoas que têm pontos de vistas diferentes dos seus. Uma fonte de perspectiva alternativa é uma boa maneira de contornar um comportamento viesado. 

Explicações racionais contra o mau comportamento humano não funcionam porque os erros comportamentais são previsivelmente irracionais. Enquanto todos os investidores têm vieses cognitivos, do CIO de um grande banco até o menor dos investidores físicos, a vantagem está do lado de quem reconhece suas fraquezas e consegue joga-los a seu favor.


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Um comentário:

  1. Muito bom, André!
    De forma objetiva, você conseguiu resumir os erros mais comuns do investidor financeiro. Pergunto: ficar olhando pelo retrovisor não seria ainda uma quinta cilada?
    Lendo o seu texto, vejo que as pessoas incorrem nesses mesmos vieses no seu comportamento em geral, isto é, na forma como tomam decisão e se relacionam com as outras pessoas.

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