quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Vá para onde está mais escuro



“A hora certa para tomar risco é quando os outros estão fugindo dele, não quando estão dispostos a competir para tomá-lo.” Howard Marks



Não raro coincide de as mesmas ações que despontam nas primeiras colocações do ranking das Barganhas da Bolsa estarem nas  manchetes de revistas e sites como empresas de futuro negro, passíveis de grandes prejuízos à frente. Corretoras e consultorias, que até pouco tempo atrás indicavam compra do papel, agora são taxativas em indicar a venda imediata. 

Mas então o que pensar? Será que a magic formula de Joel Greenblatt deu alguma pane e passou a funcionar ao contrário, indicando justamente as piores ações para compra?

Em primeiro lugar, calma, não tem nada errado. É isso mesmo. 

Agora respire fundo e repare: esssas ações só passaram do posto de queridinhas do mercado ao de piores empresas do mundo após terem apresentado alguma queda significativa na Bolsa, quase nunca antes. Ou seja, só depois de terem caído bastante é que corretoras, consultorias e revistas correm atrás de alguma explicação plausível, analisando o que está havendo com determinada empresa. No fundo querem mostrar a seus clientes que tem total controle da situação.

Portanto, não é mera coincidencia. Muito menos você deve se assustar com isso. Lembre-se que nosso método procura justamente empresas que estão mal precificadas pelo mercado, ou seja, com um grande desconto em relação ao que elas entregam de retorno em suas operações. Lembre-se que o ser humano não falha nunca em se afobar em momentos de crise e vender bons ativos por muito menos do que valem. Nesse caso, todo o alarde da mídia e de experts é tão somente uma consequência de suas quedas recentes.

Na verdade as maiores recompensas na Bolsa vêm justamente de investir em empresas onde, em algum grau, há incerteza sobre o futuro, porque é aí que as pessoas estão mais propensas a abandonar o negócio e seguir a manada em busca de novas queridinhas do mercado.
 
Então, se você é um investidor de longo prazo, meu conselho é: vá onde está mais escuro, onde há incertezas de natureza micro e macro. Em última análise o investimento em ações mais rentável caminha no sentido contrário ao da maioria: compre quando todos ao redor estão vendendo (e, portanto, o preço está baixo) e venda quando todo mundo está comprando (e preço é alto).

Esta não é uma decisão fácil, quase sempre existirá alguma explicação aparente para a queda recente da ação. Nesses momentos o fator psicológico tem peso fundamental na tomada de decisão. É contra intuitivo ir contra tudo o que você ouve e lê ao seu redor e comprar ações de uma empresa criticada pelo mercado. A Magic formula é o método preferido deste blog, mas existem outros mecanismos quantitativos que ajudam a enxergar uma realidade diferente daquela comumente vista pelo mercado.


E estes casos, quando identificados, tornam-se, indiscutivelmente, os investimentos mais rentáveis. Para sustentar esta hipótese, apresentamos a seguir um caso real envolvendo uma companhia de qualidade indiscutível. Comparamos o desempenho da ação em bons e maus momentos em relação ao índice Bovespa, de forma a expurgar as tendências macro, analisando seu desempenho de forma isolada.



Caso Real – Ambev


Como podemos observar no gráfico abaixo, as ações da Ambev chegaram a perder um terço de seu valor em relação ao Ibovespa entre 2007 e 2008. Logo em seguida, uma forte recuperação (+120%) levou as ações a um patamar recorde em três meses. 

As ações da empresa estão hoje em patamar sete vezes superior àquele verificado no auge da descrença com a companhia. 

O que ocorreu para justificar tamanha desvalorização, se mesmo na época em que as ações apresentaram esse desempenho negativo, os resultados operacionais da companhia foram em linha com as expectativas? 

Três fatores externos foram determinantes naquele ano para deteriorar o ânimo dos investidores com a companhia:

  1. Aprovação da “Lei Seca”, que previa absoluto rigor com motoristas dirigindo com nível alcoólico acima do permitido. Analistas na época discorreram sobre o potencial impacto negativo no tamanho do mercado. Mas, ao contrário, o consumo de cerveja cresceu 10% ao ano nos dois anos seguintes.
  2. Implementação de um aumento de 30% no IPI sobre as bebidas alcoólicas (exceto cerveja). O mercado passou a ter receio que a cerveja viesse a ser tributada de forma análoga, previsão que acabou não se confirmando. 
  3. O mercado temia que a compra da belga Anheuser-Busch pudesse ser prejudicial aos minoritários, seja porque o preço pago teria sido alto demais, seja porque o caixa para a operação poderia ter origem em uma possível diluição dos acionistas – algo que tampouco se confirmou.A essa altura, muito poucos eram os bancos e corretoras que ainda indicavam a compra de ações da AMBEV a seus clientes.



Evite os cenários róseos, o dinheiro está na incerteza
  
Alocar recursos a ações de boas empresas que vivem maus momentos tende a ser um excelente investimento, apesar da incerteza do timing de duração do mau momento e do timing de percepção do mercado sobre a mudança. 

Não era difícil enxergar que a Ambev ainda era uma ótima empresa – o difícil era prever ao certo a sua recuperação. Ou seja, os investidores que acreditaram na superação de dificuldades momentâneas, tiveram um retorno espetacular. 

Ao invés de reclamar do risco de se investir em uma empresa apontada pela magic formula, pense que ela é uma barganha justamente por causa da incerteza percebida pelo mercado. Se você conseguir encontrar maneiras de ir ao encontro do que a maioria despreza, enquanto a maioria está fugindo momentaneamente dessas empresas, encontrará joias onde outros veem escuridão e medo.


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